terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sociedade, ver rótulo, 2012

O novo ano, em que se diz que será o fim do mundo, será especial, vejamos que nem todos os anos é fim do mundo. Na minha curta experiência de vida lembro-me de algo semelhante, a minha avó assustou-me bastante ao dizer: "Dois mil chegarás, dois mil não passarás". Na altura, a minha principal preocupação era o que seria de mim sem os "pokemóns". Os tempos mudaram, agora as preocupações dirigiram-se para algo mais importante, o destino da humanidade, o futuro.
Numa época em que nos encontramos numa profunda crise económica, mas principalmente, numa enorme crise de valores, temos de olhar em redor, com uma visão crítica e perceber que algo está errado em nós e o caminho que estamos a tomar não é sustentável. Inevitavelmente, tocarei no assunto "Os Maias", não a grande obra de Eça de Queiroz, muito menos as previsões da ilustre persona Maya, mas as famosas profecias maias que ditam o final do Mundo para 2012. Assunto este que até já deu um filme, bela merda.
Diz a primeira profecia (e única abordada no decorrer do texto) que, passo a citar, o nosso mundo de ódio, materialismo e medo, terminará num Sábado (fim-de-semana, que bom), dia 22 de Dezembro do ano de 2012. Não sou muito crente em profecias, mas será que estas estão assim tão longe da realidade? Problemas como o ultra-consumismo, a subida exponencial da natalidade, o uso excessivo de recursos não-renováveis, a disparidade de condições de vida entre pobres, ricos e miseráveis, fazem-me acreditar que os dotados maias têm razão. Estamos a caminhar com passos largos em direcção à ruína moral, material, humana, temo o pior.
Soluções para este problema? São simples de idealizar, embora utópicas na sua realização, pois enquanto pessoas, que se dizem "de bem" e aliadas a deuses e messias, viverem em redor de luxos com valor incalculável que se poderiam transformar em pães para os esfomeados (e para isto não era necessário intervenção divina), enquanto pessoas se matarem por "iMerdas", enquanto existir descriminação racial, sexual, de faixas etárias, de crenças e outros mil e um, ou quiçá dois mil e doze exemplos, eu não tenho fé que alguma vez este nosso grande problema se solucionará.
Portanto, dou aqui os meus sinceros parabéns aos Maias (desta vez com letra maiúscula, eles merecem), por acertarem em cheio no nosso prazo de validade. Isto não quer dizer que nos vamos irradiar de vez do planeta (deste fantástico planeta!) mas que, como um delicioso iogurte, embora fora do prazo, estamos a apodrecer, a ganhar bolor, a transformar algo, que sabe tão bem, tal como comer um iogurte ou, vamos lá desvendar a analogia, viver, em algo penoso, insuportavelmente desgastante por todas as mágoas que o "olhar em redor" nos causa. 
Esperemos que a vaca tenha mais leite fresco.

7 comentários:

  1. António MontaNellas3 de janeiro de 2012 às 18:21

    Boa Banana! Tás-lhe a dar. Caguei-me a rir com a parte "ilustre persona Maya", aí arrasaste, mas tenho que concordar contigo. Existem pessoas egocêntricas, materialistas que basicamente era dar-lhes um tiro...
    E sim, a nossa sociedade tem-se tornado um iogurte podre e cheio de bolor, cabe-nos a nós, utilizando a cabecinha que temos, decidir o que é bom para nós e para as gerações futuras; afinal isso é que é o desenvolvimento sustentável.

    Para concluir, quero dizer que a vaca irá ter mais leite fresco, se, por assim dizer, massajarmos as tetinhas como deve ser... (não, eu não sou nenhum tarado; há que pescar o sentido implícito da frase) xD be nice e legalize it

    ResponderEliminar
  2. Caro André (sim, porque «Banana» não se coaduna com esta tua versão),

    Em primeiro lugar fico surpreendido com os comentários mordazes e repletos de humor. Tenho que admitir que me diverti imenso ao ler, o que nem sempre é fácil, porque são poucos aqueles que me fazem rir com o que escrevem. É preciso ser-se inteligente porque os recursos estão intimamente ligados à imaginação e, portanto, são mais limitativos e complicados para quem escreve. Desde já parabéns!

    Quanto ao conteúdo da mensagem, apraz-me fazer alguns comentários:

    1 - O carácter fatalista é uma constante na História da Humanidade. Sempre foi uma realidade a construção de teorias que ditassem o fim do Mundo. A dos Maias apenas surpreende pela sua antiguidade e algum nível de cientificidade (longe das teorias do ano 1000 e 2000 no panorama Cristão, que não transmitiam senão mitos estúpidos). Mas se os Maias fossem verdadeiramente inteligentes não tinham sido aniquilados pelos espanhóis. E essa é a lei da selecção natural. Os melhores prevalecem.

    2 - Quando te referes às assimetrias do mundo, e em particular da sociedade ocidental, enfim, é uma realidade ao qual é impossível fugir. Mas parece-me importante ressalvar que a existência de desequilíbrios é perene não só nas sociedades humanas, como na própria natureza. Mais uma vez, a lei do mais forte impera sempre. Agora, o nosso sentido ético deve procurar mais, e não se deve contentar com a simples constatação deste facto. Temos em nós uma consciência social que nos diferencia e nos deve nortear para em comunidade perseguirmos uma melhoria comum. Agora, não pertenço nem aos utópicos, nem aos saudosistas. Quem estudar a História do Mundo percebe que as coisas nunca foram muito diferentes. Em verdade, não há um passado ideal. Fazendo uma introspecção mais concreta, percebemos que a teia de interesses, o modo de relacionamento e os verdadeiros problemas que afectam Humanidade são praticamente os mesmos em toda a sua História. Inclusivamente, a própria «estruturalidade» dos celeumas políticos, económicos e sociais. A única coisa que se altera é o cenário em que eles acontecem.

    O que mudou, de facto, foi a dimensão. A tecnologia, a velocidade da informação, e a «forma» dos nossos problemas. Em Portugal, há 100 anos atrás a preocupação de 50% da população era sobreviver. E isso era o básico. Na actualidade, essa faixa para quem sobreviver é o minímo/máximo é muito mais reduzida, mas continua a haver uma franja da população que continua a achar que vive com muito pouco, mesmo que viva com mais do que suficiente. Isto não é uma critíca, mas é somente uma constatação. E é um bom sinal, pois significa que houve melhorias, e aliás é um facto que é o nosso permanente estado de insatisfação que nos faz lutar pelo que consideramos ser o progresso. Agora, que as coisas não são iguais para todos, de facto não são. Nunca foram, nem nunca serão.

    Para finalizar o meu já extenso comentário gostaria somente de sublinhar que me parece deveras significativo perceber que há jovens - mais do que se pensa - que possuem importantes capitais de sentido colectivo. Sentido esse que tem de ser o ponto fundamental para este modo de vida em comunidade, em «Nação», e que nos permita repensar e lançar novos desafios.

    Só esse estado de consciência e atitude nos pode entregar aos mais próximos desafios de Portugal e do Mundo, com a convicção de que prosseguiremos o nosso caminho, e que a história continuará. Porque é assim que as coisas funcionam.

    ResponderEliminar
  3. Antes de mais nada, queria dizer que é um prazer ver te comentar aqui nesta minha experiência e , principalmente, observar o teu bom poder de argumentação e a enorme qualidade da tua escrita, trunfo cada vez mais raro entre os jovens. De seguida, queria também congratular-me por ter atingido o meu objectivo mínimo, alguém ver e mais importante, gerar discussão a partir da exposição das minhas opiniões/ideias.
    Em relação ao que realmente interessa, o conteúdo da tua resposta, não poderia estar mais de acordo, completaste a ideia que queria transmitir usando uma abordagem mais histórica e, talvez, mais realista e concreta.
    Para concluir, queria explicar que o meu fatalismo deve-se a uma simples ideia que me surgiu. Como tu dás a entender e os factos assim o dizem, a sociedade vive de ciclos, a todos os níveis, que, infelizmente, acabam em guerras e conflitos. Mas aliando a rápida ascensão da tecnologia, velocidade de informação ao inevitável ciclo de que aqui falamos, será que esse mesmo não estará a transformar-se numa bola de neve?

    ResponderEliminar
  4. Acho preferivel ver as coisas de fora, e poder reflectir bem sobre o melhor modo de actuar sobre as coisas que vejo. com isso, poderei estar em felicidade com o meio, encontrar um ponto de equilibrio. e o equilibrio implica existir um bom, e um mau. o meio tem defeitos, e sempre os terá, e merda seria se não os tivesse. temos que nos queixar d'alguma coisa, verdade seja dita. só algo que nos pareça incognito ou misterioso ou injusto nos leva a questionar. através de diferentes modos de processamento da questao chegaremos a varias respostas, e nao podemos ter medo de as praticar. concluindo, é bom existirem coisas más, nao vale a pena ser catastrofista, quando somos uma raça inteligente, e todos os dias, limites da nossa inteligencia são quebrados.

    ResponderEliminar
  5. Não digo que tenho uma atitude catastrofista, até porque utilizei o conceito dos maias como uma espécie sátira, mas a verdade é que os tempos que correm não são bons. Mas ainda assim tenho o pingo de esperança que a vaca nos traga bom leite.
    Tentei, como tu dizes ver as coisas por fora, e cá estou eu a processar as questões que em mim surgiram, e a resposta que encontrei é que o bom, a bondade, os valores de entreajuda são muito escassos, embora todos nós os saibamos enumerar da boca para fora. A verdade é que o mau cada vez mais está a reinar, e sim, para haver equilíbrio implica existir um bom e um mau, mas olha à tua volta, por fora, com imparcialidade e reflecte para que lado é que a balança tende a cair. Eu não me queixo por ser privado de algo, felizmente tenho tudo o preciso e até mais do que isso, aliás, temos.
    Agora questiono-te directamente Pires, achas que o futuro nos sorri? Pergunto-te isto, porque era este o foco desta minha "crítica" à actualidade.

    ResponderEliminar
  6. pah, eu vejo as coisas da seguinte maneira: eu é que tenho que sorrir para o futuro. se eventualmente acontecerem coisas más, tenho capacidade para as melhorar, se acontecerem coisas boas, tenho as capacidades para as melhorar ainda mais. acho que o facto de que o futuro não nos será nada fácil, tem muitos aspectos positivos, pois com a dificuldade se ultrapassam limites e se ganha força. há que ter o espirito certo...e acima de tudo, muito empenho nos objectivos que queremos cumprir.

    ResponderEliminar
  7. "You missed the point", estás a levar as coisas ao nível pessoal, nisso eu penso da mesma forma que tu disseste. O problema que eu estou a tentar aqui debater é global. Nem tu nem ninguém conseguirá melhorar as coisas más, se estas te cortarem as pernas. Neste preciso momento em Fortaleza, no Brasil, o pânico está-se a espalhar devido ao desequilíbrio que falei anteriormente. As rixas em Londres são outro exemplo, o Irão continua a testar mísseis de longo alcance, já para não falar do programa nuclear, o sistema económico encontra-se em ruptura, a religião que apela a que todos somos iguais têm em sua posse valores que salvariam milhares de pessoas da desgraça, a anarquia e desgovernação das pessoas a pouco e pouco está a a assumir o controlo.
    Agora brincando, quando não poderes sair de casa porque alguém está na tua rua de caçadeira na mão à procura de água para beber, não poderás encarar tais dificuldades com um espírito certo.

    http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/ce/com-greve-de-policiais-fortaleza-entra-em-panico-e-lojas-fecham/n1597509577516.html

    ResponderEliminar